Após o bombardeio conduzido pelos Estados Unidos às instalações nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan, no Irã, permanecem dúvidas sobre o que aconteceu com os estoques de urânio enriquecido do país. Enquanto o presidente americano Donald Trump afirmou que o material foi “completamente destruído”, autoridades do próprio governo e da comunidade internacional sugerem versões divergentes.
O vice-presidente dos EUA, JD Vance, indicou no domingo (22) que a destruição total ainda não é certa. Em entrevista à emissora ABC, disse que o governo pretende “trabalhar nas próximas semanas para garantir o destino do combustível”, sugerindo que parte do estoque pode ter sobrevivido ao ataque.
Do outro lado, o Irã afirma que retirou previamente os materiais das instalações, o que também encontra eco em imagens de satélite. Um registro feito em 19 de junho mostra 16 caminhões posicionados junto à entrada dos túneis da instalação de Fordow, próximo a Qom, sugerindo uma possível evacuação do material radioativo e equipamentos sensíveis.
Duas fontes israelenses ouvidas pelo New York Times também apontam que equipamentos e urânio foram removidos das instalações dias antes do ataque. Já Rafael Grossi, diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmou que a entidade não tem condições de avaliar os danos subterrâneos e pediu acesso imediato para inspecionar os estoques, inclusive os cerca de 400 kg de urânio enriquecido a 60%.
Imagens obtidas no domingo indicam que o bombardeio causou danos visíveis na região de Fordow — com crateras e poeira cinza —, mas especialistas observam que o impacto pode ter sido mais profundo, já que as bombas usadas são projetadas para penetrar o subsolo antes de explodir. O analista Stu Ray, da McKenzie Intelligence Services, explicou à BBC que esse tipo de armamento visa estruturas internas e não deixa grandes sinais na superfície.
O governo iraniano, por meio de um vice-diretor da emissora estatal, reforçou a narrativa de que “os materiais já haviam sido removidos”, minimizando os efeitos da ofensiva. Porém, analistas alertam que essa versão pode servir mais ao discurso político do que à realidade técnica.
A controvérsia sobre o destino do urânio reforça a tensão entre as potências e coloca em destaque a necessidade de verificação independente. A entrada de inspetores da AIEA nas instalações poderá ser decisiva para determinar o real impacto da operação militar e os riscos atuais relacionados ao programa nuclear iraniano.