A declaração do presidente Donald Trump, que ordenou ao Departamento da Guerra retomar os testes nucleares norte-americanos, reacendeu o debate sobre o histórico e as consequências dessas explosões. Caso a medida se concretize, será a primeira detonação nuclear dos Estados Unidos em 33 anos, desde o experimento “Divider”, realizado em 23 de setembro de 1992.
O Divider foi conduzido pelo Laboratório Nacional de Los Alamos no deserto de Nevada, a menos de 160 quilômetros de Las Vegas, durante a Operação Julin, série de oito testes entre 1991 e 1992. A bomba, colocada em um poço com mais de 400 metros de profundidade, explodiu às 12h04 (horário de Brasília), gerando um terremoto de magnitude 4,4. Estima-se que a detonação liberou energia equivalente a 5 quilotons de TNT, cerca de um terço da potência da bomba de Hiroshima.
O nome “Divider” — que significa “divisor” ou “compasso” — foi escolhido de forma aleatória, seguindo a prática dos EUA de utilizar codinomes neutros para manter o sigilo das operações. À época, o país já havia realizado 1.054 testes nucleares desde 1945, quando promoveu a primeira explosão atômica do mundo, conhecida como Experiência Trinity, seguida pelos bombardeios de Hiroshima e Nagasaki.
Embora o Divider não tenha sido planejado como o último teste, uma série de fatores políticos e diplomáticos levou à interrupção do programa. Com o fim da União Soviética e o avanço das discussões internacionais sobre a proibição total de testes nucleares, o então presidente George H. W. Bush suspendeu novas detonações por nove meses. O plano previa a possibilidade de 15 novos testes até 1996, mas o sucessor Bill Clinton estendeu a suspensão por tempo indeterminado.
O próximo teste da série, batizado de “Icecap”, chegou a ter sua estrutura montada, mas nunca foi realizado — a torre de lançamento ainda está de pé no deserto de Nevada.
Em 1996, os EUA assinaram o Tratado de Proibição Total de Testes Nucleares (CTBT), que buscava eliminar completamente esse tipo de experimento. O acordo, no entanto, nunca foi ratificado pelo Congresso norte-americano, mantendo uma brecha legal para futuras retomadas.
Nesta semana, Trump justificou sua ordem afirmando que deseja colocar os Estados Unidos em “igualdade de condições” com Rússia e China, países que, segundo ele, continuam testando armamentos. A Rússia, inclusive, realizou recentemente exercícios com o torpedo nuclear “Poseidon”, capaz de gerar tsunamis radioativos.
A reação internacional foi imediata: China pediu moderação e Rússia afirmou que responderá na mesma moeda caso os EUA realizem novos testes. Já a Organização do Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares (CTBTO) alertou que qualquer detonação desse tipo poderia “desestabilizar a segurança mundial”.
O episódio reacende temores de uma nova corrida armamentista, em um cenário geopolítico que volta a se assemelhar ao da Guerra Fria, quando os EUA e a então União Soviética disputavam supremacia nuclear sob o risco constante de destruição mútua.