Apesar de ser amplamente promovido como alternativa ecológica aos produtos de limpeza convencionais, o vinagre tem sua eficácia limitada dependendo da aplicação. Estudos e especialistas apontam que, embora funcione bem para remover depósitos de calcário, seu desempenho como agente antimicrobiano é restrito e depende da concentração utilizada.
A descoberta das propriedades desincrustantes do vinagre veio da experiência de uma moradora frustrada com a limpeza de seu vaso sanitário. Após tentar diversos produtos sem sucesso, ela seguiu uma recomendação da internet e utilizou Essigessenz – vinagre concentrado – no local. O resultado imediato a levou a adotar o vinagre como aliado na limpeza doméstica, especialmente para remover resíduos de calcário em torneiras, chaleiras e pias.
A eficácia do vinagre nesses casos se deve à sua acidez. Segundo o engenheiro químico Eric Beckman, professor emérito da Universidade de Pittsburgh, o ácido acético – principal componente do vinagre – dissolve íons presentes em depósitos de calcário. Ele próprio utiliza vinagre para limpar espelhos com acúmulo desse tipo de resíduo. No entanto, para remoção de gordura, o especialista recomenda sabão ou bicarbonato de sódio. Beckman critica fortemente a combinação popular de vinagre com bicarbonato, por considerar que a mistura neutraliza as propriedades de ambos.
No campo microbiológico, o vinagre também apresenta limitações. O microbiólogo Dirk Bockmühl, da Universidade de Ciências Aplicadas Rhine-Waal, na Alemanha, liderou um estudo em 2020 que analisou o efeito antimicrobiano do vinagre. Os resultados mostraram que sua eficácia se manifesta apenas em concentrações puras (5%) e é potencializada com adição de ácido cítrico em concentrações de até 10%. Nestas condições, foi eficaz contra certas bactérias e fungos, mas não contra cepas mais resistentes, como o Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) e, possivelmente, norovírus.
Outro ponto de atenção é o uso inadequado do vinagre, que pode causar danos a materiais como pedra natural, cobre, bronze, latão, vedação de borracha e até o esmalte de azulejos. O químico italiano Dario Bressanini adverte para os riscos de corrosão, inclusive em eletrodomésticos como cafeteiras e máquinas de lavar.
A professora Nicola Carslaw, da Universidade de York, especializada em química do ar interno, alerta que, embora o vinagre seja menos reativo quimicamente do que os produtos de limpeza industrializados, sua ação como limpador deve ser cautelosa. Ela lembra que produtos convencionais – inclusive os vendidos como “naturais” – liberam compostos orgânicos voláteis (VOCs), que podem reagir com o ozônio e gerar partículas prejudiciais à saúde respiratória. O vinagre, ao contrário, apresenta menor impacto nesse aspecto, especialmente por ser aplicado com panos em vez de sprays.
Do ponto de vista ambiental, o vinagre também se mostra vantajoso. Produzido por meio da fermentação natural de açúcares, ele se decompõe rapidamente no meio ambiente, diferentemente de muitos ingredientes presentes em sabões e detergentes, que persistem e podem afetar ecossistemas. Contudo, Beckman ressalta que o impacto ecológico positivo só se aplica a vinagres de origem natural. Há versões sintéticas, derivadas de petróleo, que anulam esses benefícios.
Diante disso, o vinagre se firma como uma boa opção para tarefas específicas, como a remoção de calcário, oferecendo vantagens em sustentabilidade e menor risco à saúde. Porém, não substitui com eficiência sabões ou desinfetantes no combate a germes e sujeiras mais complexas.