No terceiro episódio do podcast “Marília – o outro lado da sofrência”, do g1, os sertanejos Chitãozinho e Xororó destacaram a importância de Marília Mendonça na transformação do sertanejo e na abertura de espaço para outras mulheres no gênero. Para Xororó, a artista trouxe para o Brasil uma representatividade feminina que já era presente no country americano, com nomes como Dolly Parton e Reba McEntire. “E de repente, quando o segmento universitário surgiu e elas vieram junto, cantando esse outro lado da história, realmente preencheram essa lacuna”, afirmou o cantor.

Marília Mendonça foi apontada pelos artistas como dona de um timbre inconfundível e de uma capacidade rara de emocionar. “É vozeirão mesmo”, definiu Xororó. Já Chitãozinho disse que poucos cantores no mundo têm o que chama de “lágrima na voz”. “Ela era uma dessas pessoas privilegiadas. Bastava abrir a boca que a emoção já vinha. O que ela fazia tinha sempre uma arte”, completou.

A cantora também foi lembrada por sua postura firme contra o rótulo “feminejo”, usado para definir a presença feminina no sertanejo. Marília rejeitava o termo por acreditar que ele segregava as mulheres, em vez de integrá-las em pé de igualdade com os homens. “Existe rock feminino? Existe MPB feminino? Então qual é a tua?”, questionou ela, em reunião com a gravadora. Segundo a figurinista Flavia Brunetti, só a menção ao termo já era suficiente para deixá-la irritada.

O incômodo tinha uma motivação clara: Marília não buscava um espaço separado — ela exigia o mesmo espaço, com igualdade nos palcos, nas rádios e nos cachês. Essa postura firme e pioneira a transformou em uma das principais vozes do sertanejo contemporâneo, com músicas que falavam de traição, bebida e liberdade sob uma ótica feminina, sem pedir licença.

A força de sua presença e sua musicalidade continuam sendo celebradas, como no projeto “Elas em Evidência”, de 2017, em que cantou ao lado de Chitãozinho e Xororó a canção “Página de amigos”. A homenagem à artista também é um reconhecimento do impacto que ela teve na história recente da música brasileira.